Por Arilma Tavares

Assistindo o Café Filosófico sobre Ética no Cotidiano com Clovis de Barros Filho e Mário Sérgio Cortella(1) tive vários insights e reflexões voltados para a Sustentabilidade de forma ampla (individual, social e empresarial). Foi com base no conceito de ética apresentado por Clovis de Barros Filho que eu desenvolvi esse artigo: “Ética é a inteligência compartilhada a serviço do aperfeiçoamento da convivência humana”.

Percebo que existe uma relação direta entre Ética, Inteligência e Sustentabilidade Empresarial. Vou te explicar!

Avaliando o conceito de ética apresentado por Clovis de Barros Filho infere-se que existe um tipo de inteligência que pode alavancar a ética e, por consequência, potencializar a boa convivência humana.

A inteligência que pode alavancar a ética, certamente, não se restringe à inteligência racional e nem à inteligência emocional, visto que o exercício da ética requer uma mobilização de valores pautados em um senso de coletividade, respeito e responsabilidade que transcendem ao meramente cartesiano (inteligência racional) e inter-intra-pessoal (inteligência emocional).

Com o avanço da sociedade para sistemas cada vez mais complexos, incluindo a ascensão da inteligência artificial, o desafio humano torna-se, cada vez mais, “ser humano”. Essa humanidade deverá ser despertada a partir de novos modelos de educação e de relacionamentos. Para tanto, se faz necessário investimentos no desenvolvimento da inteligência humana de forma muito mais ampliada.

Mas qual inteligência é capaz de nos direcionar para a nossa própria humanidade? Algumas inteligências têm sido apresentadas com conceitos similares, demostrando haver uma característica diferenciada no ser humano capaz de contribuir com essa jornada, a exemplo da Inteligência Espiritual (Danah Zohar e Ian Marshal, 2000) (2), Inteligência Existencial (Howard Gardner, 2000 apud Silva, 2000) (3) e Humildade (Edward D. Hess e Katherine Ludwig, 2020 apud Silveira, 2021) (4).

Não se pretende aqui criar um novo nome de inteligência ou eleger qual a que melhor se enquadra nesse propósito, mas sim, pretende-se evidenciar a necessidade de avançarmos em um entendimento ampliado da inteligência para além das inteligências racional e emocional.

Outro aspecto trazido no conceito de ética por Clovis de Barros Filho é o “aperfeiçoamento da convivência humana”. A palavra “aperfeiçoamento” remete à ideia de melhoria contínua, de algo permanente e que não se esgota, evoluindo sempre.

A convivência humana por sua vez, quando aperfeiçoada, leva a um estado de garantia de direitos. Podemos considerar não apenas os direitos apresentados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas também outros que ainda não eram vislumbrados quando da sua criação, tais como: o direito ao meio ambiente saudável e equilibrado, o direito à identidade de gênero, à orientação sexual e também o direto dos povos (para além do indivíduo).

Nesse sentido, o “aperfeiçoamento da convivência humana” pode ser entendido como “Sustentabilidade”, ou seja, a busca contínua pela excelência nas relações em direção ao Desenvolvimento Sustentável.

Com base nesse entendimento, considera-se adaptar o conceito de ética como sendo: a inteligência ampliada (para além das inteligências intelectual e emocional) compartilhada a serviço da Sustentabilidade.

Ainda, propõe-se entender a Sustentabilidade como o aperfeiçoamento contínuo (do ser, da sociedade, das empresas) com o foco na boa convivência (consigo, com o outro, com as partes interessadas), tendo a ética como o combustível oriundo da aplicação da inteligência humana em seu sentido mais amplo (para além das inteligências intelectual e emocional).

Fazendo um recorte do conceito apresentado para o ambiente empresarial, tem-se que a Sustentabilidade Empresarial é o aperfeiçoamento contínuo da gestão empresarial com o foco na boa convivência com as partes interessadas, tendo a ética como o combustível oriundo da aplicação da inteligência humana em seu sentido mais amplo (para além das inteligências intelectual e emocional).

Nessa perspectiva, pode-se inferir que seres humanos com a inteligência desenvolvida de forma ampliada, possuem maior senso de coletividade e sentido, gerando muito mais engajamento e envolvimento em seus ambientes de trabalho, fomentando relações mais éticas e, assim, potencializando o bem estar, a segurança emocional, maior produtividade e maior assertividade no encaminhamento de questões fundamentais da empresa – aquelas situações que requerem uma avaliação sistêmica em relação às partes interessadas com vista ao bem comum – gerando a boa operação do negócio, ou seja, a sustentabilidade empresarial.

A sustentabilidade empresarial, portanto, possui relação direta com a sustentabilidade do planeta e da sociedade. Nesse sentido, é importante que o setor empresarial cada vez mais avance em direção a um capitalismo de stakeholder, atentando para todas as partes interessadas, movido pela ética e pela necessidade de manter as suas operações sustentáveis no longo prazo. Dessa forma, com ética e inteligência, os resultados empresariais serão potencializados, garantindo a sua sustentabilidade e externalizando impactos positivos para a sociedade.

 

(1) BARROS FILHO, Clóvis de; CORTELLA, Mario Sérgio. Ética no cotidiano. São Paulo: Café Filosófico, 2014. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=9_YnlPXKlLU>. Acesso em: 19 out 2021.
(2) ZOHAR, Danah; MARSHALL, Ian. Inteligência Espiritual. 2000. Rio de Janeiro: Editora Viva Livros. 2017.
(3) SILVA, Lonice M. K. da. Existe uma inteligência existencial/espiritual? O debate entre H. Gardner e R. A . Emmons. Revista de Estudos da Religião. Nº 3 / 2001 / pp. 47-64. ISSN 1677-1222. Disponível em:< www.pucsp.br/rever/rv3_2001/p_silva.pdf> Acessado em 20 dez 2021.
(4) SILVEIRA, Alexandre di Miceli da. Pílulas de Liderança. 10 leituras Essenciais para Construir Organizações de Excelência no Século XXI. Volume I. Virtuous Company. 2021.

* Arilma Tavares é Engenheira Sanitarista e Ambiental, Mestre em Engenharia Ambiental Urbana, Especialista em Soluções Ambientais e Especialista em Direitos Humanos, Responsabilidade Social e Cidadania Global. É coordenadora de Sustentabilidade do SENAI CIMATEC.

Ética, inteligência e sustentabilidade empresarial